Mais uma pesquisa nacional comprova que o Rio Grande do Norte possui um dos piores ensinos do país. O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), criado para nortear as políticas públicas de melhoria da qualidade das escolas do país, constatou que o Estado potiguar está entre os piores do ensino fundamental de primeira fase, correspondente a 1ª a 4ª série. A última posição no ranking desta fase é dividida com os estados da Bahia e do Piauí. Enquanto a média nacional da avaliação ficou em 3,9 pontos, a média do RN, BA e PI foi de 2,6. O Ideb foi desenvolvido pelo Ministério da Educação, que ontem divulgou os números oficiais do estudo.
No ensino fundamental da 2ª fase, de 5ª a 8ª série, o Rio Grande do Norte fica em 24º, com a média de 2,6. Estão com média pior nesta fase do que o RN, os estados de Pernambuco (2,4), Alagoas (2,5) e Paraíba (2,5). O RN divide a 24º com o Piauí e a Bahia. A média nacional foi 3,3 pontos. No ensino médio, o RN apresentou uma média de 2,6. É a antepenúltima posição. Numa posição comum com o Pará e a Paraíba. Piauí (2,3) e Maranhão (2,4) ficaram, respectivamente, nas últimas e penúltimas colocações. No ensino médio, o estudo apontou a média do país em 3,0.
Na análise por município, os números da pesquisa do Ideb retratam uma realidade pouco animadora para o Estado. Na primeira fase do ensino fundamental, o Rio Grande do Norte tem o município com o pior índice. Em Monte das Gameleiras a média foi 1,00. A cidade de Galinhos ficou como a sexta pior. Na análise da segunda fase, a cidade baiana de Ibiquera ficou em último lugar e em penúltimo está Jundiá (RN). Como o sexto pior ensino de 5ª a 8ª série está o município de Olho D´Água dos Borges (RN).
A reportagem da TRIBUNA DO NORTE tentou entrar em contato com a secretária estadual de Educação, Ana Cristina Cabral, mas o celular dela estava desligado. A pesquisa nacional também aponta o índice de analfabetismo. Japi lidera. No município, 48,3% da população maior de 15 anos tem dificuldades de ler e escrever. Monte das Gameleiras apresenta 48,2% de analfabetos e São Miguel de Touros 47,7%. No outro lado da ponta, estão Natal e Parnamirim, com os menores índices: 11,9% e 13,8% nessa faixa etária.
No ranking por capitais da fase 1 (1º a 4º séries), Natal está na penúltima posição, com média 2,9, empatado com Salvador e Teresina. Esse três capitais superam apenas Vitória (2,8). Na análise da segunda fase fundamental, Natal, com média de 2,8, ficou melhor do que outras sete capitais (Rio de Janeiro, Teresina, Recife, Vitória, Fortaleza, Maceio e Salvador). Recife, em último lugar, teve 2,2 de média.
Municípios do interior estão nos dois extremos
Nas cidades do interior, encontra-se o que há de melhor e pior da educação brasileira. São municípios pequenos que figuram no topo da lista do País no novo indicador criado pelo Ministério da Educação (MEC), o Índice de Desenvolvimento Básico (Ideb), cujos números foram, oficialmente, divulgados ontem. São também as pequenas cidades que trazem os piores resultados.
“Cidades pequenas têm vantagens, quando bem aproveitadas, em relação a grandes centros”, afirma o presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Reynaldo Fernandes. “A violência não é tão acentuada, o acesso a escolas é mais fácil”, observou. Fernandes não estranha também o fato de os municípios pequenos estarem entre os piores no ranking, seja de 1.ª a 4.ª séries (reunidos no Ideb como fase 1), seja entre 5.ª e 8.ª séries (que formam a fase 2). “Muitas das cidades que tiveram notas baixas dispõem de poucos recursos e, pior, não sabem que têm direito de se beneficiar por linhas de incentivo, criadas pelo MEC”, resumiu.
As diferenças estampadas no Ideb são grandes. Nas escolas estaduais da capital paulista, alunos de 1.ª a 4.ª séries alcançaram a média de 4,6 numa escala que vai até 10. Estudantes de Torrinha, no interior do Estado, alcançaram a média 6,7. Quando se compara o desempenho de alunos paulistanos da rede estadual entre 5.ª e 8.ª séries com os do interior, o fenômeno repete-se. Estudantes de Limeira (SP) alcançaram média 6,4; enquanto paulistanos, 3,8.
Feito a partir de dados de desempenho do aluno em exames como Prova Brasil e Sistema Nacional de Avaliação Básica (Saeb) e de informações sobre rendimento escolar, como aprovação e tempo médio de permanência, o Ideb será a ferramenta principal para o MEC pôr em prática as ações do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), lançado ontem (24) pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. (Agência Estado).
Acari fica com a melhor média e Olho D’Água com a pior
Na análise do ensino fundamental de primeira fase, correspondente a 1ª a 4ª série, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) analisou 143 municípios potiguares, dos 167 existentes. O melhor nível desse ensino na rede municipal ficou com a cidade de Acari, que alcançou uma média de 4,7. Com isso, Acari foi o único município do RN a alcançar um patamar acima da média nacional de 3,8. A pior média no Estado ficou com o município de Olho D´Água dos Borges, com 1,4.
Na análise do ensino fundamental de primeira fase, entre os grandes municípios potiguares, a melhor média foi de Natal, que ficou em sétimo lugar no ranking das melhores entre as cidades potiguares.
Mossoró ficou em décimo e Parnamirim em décimo segundo. Na verdade, a diferença da estatística dos três maiores municípios potiguares é muito pequena. Na capital a média foi de 3,3 e em Mossoró e Parnamirim foi 3,2.
Na análise do ensino fundamental de segunda fase, equivalente a 5ª a 8ª série, na rede municipal de ensino, o Ideb analisou 125 municípios. O primeiro lugar ficou com a cidade de Lajes, que alcançou a média de 3,6. Acari, que havia ficado em primeiro lugar na primeira fase do nível fundamental, ficou em segundo lugar nesse nível.
Mas na análise dos três principais municípios potiguares houve uma inversão de colocações. Mossoró foi o que ficou melhor ranqueado, alcançando o décimo primeiro lugar. Natal ficou em décimo quarto e Parnamirim em vigésimo primeiro.
Em comum no comparativo dos principais municípios potiguares entre a primeira e segunda fase do nível fundamental, está a pequena diferença na estatística. Na segunda fase, a média de Mossoró foi de 3,1, Natal ficou com 3,0 e Parnamirim 2,9. O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica também analisou a primeira fase do nível fundamental nas escolas estaduais.
Foram estudados 104 cidades. Entre elas, a melhor foi São Vicente, com média de 4,4 e a pior foi Monte das Gameleiras com média de 1,0. Entre as grandes cidades potiguares, Mossoró foi a melhor colocada, ficou em vigésimo segundo na média estadual e Natal ficou em trigésimo sétimo.
Para especialista, é necessário firmar um pacto
São Paulo (AE) - Passou no primeiro teste, o da crítica especializada, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Criado com a proposta de servir como nova avaliação educacional, foi elevado à categoria de pacto nacional pela qualidade do ensino, o que não é pouco. Países com desempenhos sofríveis dos ensinos fundamental e médio só reverteram essa situação depois de um pacto.
“A parte da educação básica está muito boa”, resume o ex-ministro da Educação e deputado Paulo Renato Souza (PSDB-SP). “O Ideb vai na linha do que vínhamos fazendo no passado, foi parado e agora está sendo retomado.” O que agradou a ele foi o fato de o índice vincular o repasse de dinheiro com o desempenho das escolas e, no conjunto, dos municípios e Estados. É uma garantia da adesão dos principais atores, prefeitos e governadores.
A discriminação positiva entusiasmou o diretor-executivo da Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana, Jorge Werthein. A idéia de focar municípios e Estados de índice ruim, os mil piores num primeiro momento, fará com que regiões de baixo desempenho saiam do atoleiro em que se encontram e elevem o índice nacional.
“É como se fosse um pacto e todos os países que aderiram a estratégias como essa, assumindo que ela deve valer por 30, 40 anos, conseguiram fazer a diferença.” Werthein cita os clássicos exemplos da Malásia, Espanha e Coréia do Sul. O professor Erasto Fortes Mendonça, da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB), lembra que o governo federal não é o administrador direto dos ensinos fundamental e médio. Mas, quando cria um parâmetro como o Ideb, o Ministério da Educação (MEC) torna viável uma articulação que sempre foi falha. “Temos agora de chamar à responsabilidade Estados e municípios”, diz. Werthein ressalta que, ao estabelecer a meta de nota 6 e considerando que há exemplos de cidades a atingindo, faz todo sentido focar naqueles com mais dificuldades.