Estado retoma território na guerra contra o crime
A ofensiva desfechada contra o narcotráfico pelas tropas da polícia militar e civil do Rio de Janeiro, com o apoio de tanques de guerra da Marinha e dos fuzileiros navais, entra hoje (sexta-feira) no seu sexto dia. É uma resposta aos atentados e incêndios em ônibus e carros promovidos pelos bandidos desde domingo. Ontem (25), os policiais, com reforço federal, ocuparam a Vila Cruzeiro, na Penha, zona norte do Rio, expulsando os traficantes que se refugiaram na região vizinha do Complexo do Alemão. Nesta sexta-feira, 300 homens da Polícia Federal devem se juntar ao esforço contra o crime. Até a noite de quinta-feira, o saldo extraoficial da batalha entre as forças do Estado e as quadrilhas de narcotraficantes era de 70 veículos incendiados e 30 mortos.
Apenas na favela do Jacarezinho, o confronto deixou sete mortos na quinta-feira – seus nomes não haviam sido divulgados. No mesmo dia, 11 pessoas foram presas. Dez ônibus, quatro caminhões e duas motos foram incendiados. Também havia ocorrido dois ataques a postos ou dependências policiais, um deles em Mesquita, na região da Baixada Fluminense, e outro no Jardim América, zona norte da cidade.
“Vamos atrás deles” - Horas após a arremetida contra a Vila Cruzeiro, o subchefe operacional da Polícia Civil, delegado Rodrigo Oliveira, proclamou que “a comunidade hoje pertence ao Estado”. O secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, avisou que as tropas não sairão da Vila Cruzeiro. “É importante prender essas pessoas, mas é mais importante tirar território.
Ações de repressão como as de hoje são importantes como parte de um projeto maior que é a retomada de território pelo Estado”, disse. Indagado sobre se não seria possível prever a fuga dos criminosos para o Complexo do Alemão, o comandante-geral da PM, coronel Mário Sérgio Duarte, advertiu que “vamos atrás deles seja onde for”. A caçada aos foragidos que se esconderam no Complexo do Alemão poderia prosseguir à noite com o apoio de helicópteros dotados de equipamento de visão noturna.
Para o sociólogo e especialista em violência Gláucio Soares, do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado/RJ (Iesp/Uerj), a reação das organizações criminosas ligadas ao tráfico de drogas já era esperada depois que o governo estadual começou a ocupar comunidades em que esses grupos atuavam, com a implantação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). Ele comparou a crise carioca com o episódio de 2006, em São Paulo, quando o Primeiro Comando da Capital (PCC) também realizou ataques violentos em represália à prisão e remoção de seus líderes para presídios de segurança máxima em outros estados. Na época, houve ataque a postos policiais e unidades dos bombeiros com assassinatos de agentes da lei.
Questionando a lei - Soares acha impossível prever por quanto tempo a onda de incêndios a veículos será mantida. Ele acredita, no entanto, que o tráfico não tem a estrutura necessária para sustentar indefinidamente as ações. Entende que “os custos dessas ações para o tráfico são muito altos, tanto em termos financeiros, como de material e de vidas”. Considerou que a cúpula da segurança pública do Rio está agindo de maneira adequada, investindo mais em inteligência policial, retomando áreas que eram dominadas pelo tráfico e fazendo investimentos sociais. Avaliou como acertada a transferência dos presos que supostamente ordenaram os ataques a presídios de segurança máxima mas questionou a legislação que favorece o contato pessoal direto entre detentos e advogados ou parentes, sugerindo que ela deve mudar.
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