Maria Eugênia Maceira Montenegro teve uma existência longínqua, quase toda recheada de momentos felizes. Era filha de pai português e mãe mineira. Aos 90 anos de idade - quando partiu para o outro lado - estava em plena lucidez de invejar qualquer pessoa. Deixou a cidade de Assu - terra que ela tanto amou - literariamente "mais pobre e deserdada do seu talento".Aparentemente modesta, amiga dos seus amigos. Tratava as pessoas com carinho e zelo, com aquele seu jeito que também aparentava ingenuidade. Como ela gostava das palestras e das reuniãos sociais na calçada da sua casa da Praça da Matriz, de Assu. Poetiza, historiadora, palestradora, amante das artes plásticas. Aquela escritora pertencia a Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, cadeira número 16, desde 1972 - sucedendo Rômulo Wanderley -, e tinha cadeira também na Academia Lavrense de Letras, desde 1970.Maria Eugênia chegou em terra assuense procedente de Lavras, interior do sul de Minas Gerais - cognominada de Atenas Mineira -, nos idos de trinta e oito, com apenas 23 anos de idade, acompanhando o seu marido jovem recém formado pela Escola Superior de Agricultura de Lavras, Nelson Borges Montenegro, para morar na fazenda "Picada", na localidade de Sacramento, atual município de Ipanguaçu, por onde se elegeu prefeita nas eleições de 1972 - era candidata única - Aliança Renovadora Nacional ARENA. O incentivo e apoio a cultura da terra ipanguaçuense, como não podia ser diferente, foi uma das prioridades da sua administração.No final da década de 50, dona Gena deixou de conviver com as matas verdes e carnaubeiras da Picada, para fixar residência na aristocrática cidade de Assu, que já vivia naquele tempo em plena atividade literária, com jornais e mais jornais sendo editados, a sociedade praticando as artes cênicas, realizando tertúlias literárias, saraus, e seus célebres poetas que eram muitos, produzindo versos e mais versos da melhor qualidade.Dona Gena passou então a morar num rico casarão da Praça da Proclamação, atual Getúlio Vargas, parede-e-meia com Tarcísio e depois com o escritor Francisco Amorim com quem, talvez, adquiriu muitos conhecimentos sobre o Assu e sua gente.Não foi difícil para ela que já carregava no seu interior a arte da prosa e do verso, conviver no Assu, além dos membros da família Montenegro, com os Caldas, de Renato Caldas (poeta de "Fulô do Mato" que o Brasil consagrou), os Amorim, de Pedro Amorim, os Wanderley, de Sinhazinha Wanderley, os Soares de Macedo, de João Natanael de Macedo, os Soutos, de Elias souto (fundador da imprensa diária no Estado potiguar), os Silveira, de Celso da Silveira (que fundou em Assu o 1º musel de arte popular do Brasil), e tantas outras famílias daquela terra assuense.Aquela mulher de letras, assuense por escolha e Lei, e norte-rio-grandense por outorga, colaborou em vários jornais do Assu, de Natal e de sua terra natal, como "A Gazeta" e "Tribuna de Lavras". Publicou onze livros, intitulados "Saudade, Teu Nome é Menina" (1962), além de "Alfar a Que Está Só", "Azul Solitário" (poemas), "Perfil de João Lins Caldas" (plaquete), 1974, "Por Que o Américo Ficou Lelé da Cuca", "Lembranças e Tradições do Açu" (história e costumes), "A Piabinha Encantada e Outras Histórias", "Lourenço, O Sertanejo" (romance), "A Andorinha Sagrada de Vila Flor", "Lavras, Terras de Lembranças" e "Todas as Marias" (contos). Tinha ainda os inéditos intitulados "Redomas de Luz" (Epitáfios) e "Poemas do Entardecer".Sobre a morte, esse "velho tema sempre novo", no dizer do poeta Caldas, Gena confessou: "Não tenho medo de morrer. A morte é o princípio de uma vida. A gente nasce para morrer e morre para viver".E ficou o Assu, sem o seu poetar. Os jovens estudiosos da terra assuense perderam o seu maior patrimônio cultural. Era ela o maior referencial da terra assuense.Ficamos nos versos de tanta pureza e ternura, que ela escreveu:Minhas mãos são asas.Taças,Preces:Quando anseio a liberdade,Quando tenho sede de amor, quando minha alma se transforma em dor.
Fonte: Fernando Caldas
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